Ambientes “DOENTES”: Como identificar e curar?

Publicado em: 05/06/2019

*Escrito por Tessy Tebchirani

 

Ambientes “DOENTES”: Como identificar e curar?

 

 

Quem nunca entrou em determinado ambiente e sentiu inquietação, incômodo ou pressa sem razões aparentes?

 

 

 

Em outro local, contudo, sentiu-se abraçado, confortável, totalmente à vontade.

 

 

 

 

Qual a razão?

Mesmo sem motivos aparentes, tudo indica que você está reagindo ao ambiente a que foi submetido.

Existem premissas básicas que podem ajudar a conscientização de onde estamos e para onde nossa consciência do espaço permite ir.

Podemos avançar, estruturando ambientes conforme a função que desempenham.

Isso vale para residências, ambientes comerciais, empresariais, hospitalares, etc. possibilitando verdadeira radiografia de indícios comportamentais das pessoas que ali transitam.

Com esse objetivo, é necessário entender que a premissa básica, crucial e indispensável para o diagnóstico e elaboração de qualquer projeto ambiental exige cruzamento de dois fatores:

 

FUNÇÃO x 5 SENTIDOS

Embora revestida de grande importância, a estética está subordinada à funcionalidade de um projeto bem definido. O fator função abrange a parte técnica necessária para desempenho de projeto, tais como:

  • avaliação das necessidades do ambiente;
  • normas;
  • modulação dos espaços;
  • escolha do mobiliário;
  • classificação de cada tipo de ambiente;
  • ergonomia entre outros.

 

Os 5 sentidos referem-se à parte sensorial, necessária para humanizar o ambiente, e fazer a diferença acima citada, fazendo com que o usuário sinta-se extremamente confortável e produtivo dentro do ambiente.

Como disse Winston Churchill: “moldamos nossos edifícios, e depois nossos edifícios nos moldam”.

Em um mundo em que se busca harmonizar tudo (vinhos, queijos, cervejas, cafés, azeites) não há como deixar de atentar para as características dos ambientes em que estamos inseridos durante noventa por cento de nossa vida, com nossos cinco sentidos em plena operação.

Precisamos harmonizar nossos espaços construídos, mas como fazer?

 

 

 

 

Vejamos, sentido a sentido:

 

 

 

 

 

 

 

 

TATO

Não podemos ignorar onde estamos sob o ponto de vista geográfico (coordenadas, hemisfério, país, cidade), pois são fatores que determinam o clima que interfere em tudo.

Como não sugerir pisos “gelados” (cerâmicos, porcelanatos, pedras) para temperaturas escaldantes, ou tecidos que “transpiram” em assentos, encostos e nas superfícies de trabalho de longa duração.

Contrariamente, para temperaturas frias devemos utilizar materiais absorventes: madeiras, tecidos, tapetes.

Mesmo em espaços climatizados, precisamos de texturas e maciez, para sentir a dimensão dos objetos.

Até mesmo como alerta, pois através do tato somos avisados de temperatura intensa que provoca dor.

Conscientizados, podemos avaliar ambientes:

  • Não parou para pensar no “tato ”quando construiu o ambiente?

Calma, dá para “curar” facilmente esse local com “molhos” inseridos em forma de tapetes, quadros, cortinas, superfícies e almofadas.

Porque salas de atendimento em regiões gélidas precisam de mesas de madeiras, de couro ou de algo que transmita calor? Ou ainda de cadeiras que “abracem” e tapetes fofinhos?

Agora você já sabe a resposta!

 

VISÃO

Esse é sentido traiçoeiro que nos engana e confunde.

Estímulos visuais chegam ao cérebro antes de estímulos auditivos, pois o nervo ótico é 40 vezes mais rápido do que o nervo auditivo.

Como não acreditar: “a primeira impressão é a que fica”.

Somos “escravos” da visão que julga permanentemente.

Você pode argumentar: “gosto é pessoal, depende da pessoa, da cultura da empresa, da casa, do escritório”.

Todavia, até onde sabemos sujeira, desordem, bagunça são captados pela nossa visão, processadas e guardadas em nosso fantástico cérebro que redobra a energia para manter o foco.

Faça o teste: arrume sua mesa de trabalho, jogue o papel de bala no lixo, organize as pastas. Depois reflita sobre o que sentiu.

Na China ou no Canadá, a leitura cerebral, sensorial é a mesma. Uma plantinha, mesmo artificial, mexe com o homo sapien. Um verdinho à vista, segundo a Human Spaces, reflete em 15% de melhora na criatividade, aumentando a sensação de bem-estar.

Isso sem falar na luz natural, nossa indiscutível deusa. Trata-se do item que mais influência tem na satisfação ambiental. Para melhorar o conforto e a própria saúde, trabalhe perto de uma janela. O relógio biológico, a produção de melatonina, e o ritmo circadiano são protagonistas desse enredo.

Imagine uma vista do exterior conectada com a natureza. Como pode influenciar nosso comportamento.

Entretanto, use a luz com moderação, pois todo excesso faz mal à saúde. Faça controle de incidência nas janelas e ambientes, já que a claridade muda hora pós hora do dia.

Abuse dos dimers, lustres maravilhosos, leds, técnicas e aplicativos que nos permitem criar cenas para cada ocasião. Lembre-se: quanto mais versátil as opções de luminosidade do ambiente, mais multiuso ele pode ser com redução do risco de tornar-se doente!

 

AUDIÇÃO

Falando em ambientes doentes, a audição contribui sobremaneira.

Quem nunca ficou perturbado com o tagarela ao lado, falando alto e sem parar?

Mate-o!

O tagarela faz você dispender esforços em dobro para fazer seu trabalho, seus cálculos, seus textos.

Você está envelhecendo mais do que deveria por causa deles.

Sem exageros, assim como na visão, nosso cérebro trabalha dobrado para neutralizar o falatório e para se concentrar na função que estamos desempenhando.

O que podemos fazer sem apelo à violência? Rsrs

Talvez hierarquizar melhor os espaços, colocando a galera falante em um hemisfério e os nerds em outro (falo isso, por mais óbvio que pareça porque trabalhei em respeitável construtora que obedecendo modismo misturou o clero. Claro que não deu certo.).

Investir em áreas de descompressão, lounges, ou até células/cabines para falar com privacidade ao telefone, divisórias com materiais absorventes, usar e abusar dos materiais acústicos disponíveis, barreiras visíveis e invisíveis para filtrar sons são boas alternativas.

Pode parecer abordagem zen, mas confie. Até mesmo quem afirma que é mais produtivo no barulho, no ruído, na confusão, não se esqueça que nos acostumamos com tudo, o que é bom e o que não é. Sabe aquela caneta que você procura e que está em sua mão? Pois é….rsrs

Contudo, não estou propondo silêncio absoluto, muito pelo contrário. Existem salas de esperas e outros ambientes com necessidade de sigilo e intimidade, em que a música ambiente da recepção, por exemplo, afasta o som de dentro e que faz toda diferença quando somos nós que estamos lá dentro. Correto?

Esse sentido é mais difícil de “curar” no ambiente executado, pois requer planejamento prévio e excelente definição de layouts e hierarquia de fluxos com muita técnica para atender as diversas demandas. Mas, há paliativos: materiais absorventes disponíveis no mercado e até mudanças de layout emergenciais ajudam e muito!

 

PALADAR

Já parou para pensar que nosso cérebro muitas vezes conecta um local por conta da balinha que oferecem?

Sabe aquele cappuccino que oferecem ao cliente da construtora de prédios? Procurando induzir o cliente a pensar como se fosse “especial”. E é, mas nada melhor que uma sensação ratificando, certo?

Existe melhor “aprouch” para falar do investimento proposto do que fazer o cliente em potencial sentir que está “na casa da avó”?

Por outra perspectiva.

Em outra situação, toda quinta feira tinha bolo de fubá feito na hora pela zeladora para os funcionários da empresa.

Custo extremamente baixo para a empresa, mas retorno incalculável na produtividade dos funcionários.

Pequenos atos geram integração da equipe, valorização do profissional que enxerga a empresa como segunda casa.

Preferimos a concessionária de carros que oferece aquele café delicioso e fresquinho, que nos desperta quando lá vamos no pós expediente ao final do dia.

Concorda? Não custa quase nada inserir esse “sentido” no seu negócio, escritório, casa?

Sem desculpas para não “curá-lo” então!

 

OLFATO

A memória olfativa está diretamente ligada aos mecanismos fisiológicos que regem as emoções.

Quando sentimos um cheiro, a informação passa pelas narinas e é processada no sistema límbico, parte do cérebro responsável pela memória, sentimentos, reações instintivas e pelos reflexos.

Segundo a Universidade Rockfeller (NY):

  • Uma pessoa consegue lembrar 35% dos ODORES a que foi exposta;
  • Uma pessoa consegue lembrar 5% dos VISUAIS a que foi exposta;
  • Uma pessoa consegue lembrar 2% dos SONS a que foi exposta;
  • Uma pessoa consegue lembrar 1% dos TOQUES a que foi exposta;

É sabido que aromas de menta e baunilha aguçam a concentração e os aromas de lavanda o relaxamento. Segundo a revista Claudia, “o perfume certo pode melhorar sua vida”, ou suas vendas!

Segue as essências citadas e suas funções:

Alecrim: Para quem espera por energias positivas e coisas boas dentro de casa, a essência de alecrim é a alternativa mais do que indicada. Perfeito para aumentar o bom humor das pessoas, a erva de perfume adocicado ainda proporciona melhoras ao couro cabeludo.

 

Lavanda: Sabe aquele dia que você comeu demais, está indisposto e o sufoco não passa? Óleos com essência de lavanda são ótimas alternativas para melhorar o seu estado. Além de digestivo, o perfume melhora o bem-estar do indivíduo. O cheiro de lavanda ainda melhora o sistema imunológico, fortificando as defesas do corpo.

 

Camomila: a vovó já dizia: nada melhor do que um chá de camomila para acalmar os nervos e as tensões. Em se tratando da essência o efeito é o mesmo. O doce aroma da camomila melhora o bem-estar, alivia o stress e deve garantir boa noite de sono para quem sofre de insônia.

 

Laranja: Vai receber os parentes no final de semana ou simplesmente quer ficar pronta para a badalação? Óleos essenciais de laranja estimulam a criatividade, a força física e o desempenho das pessoas. Perfeito para quem vai enfrentar uma maratona trabalhosa ou precisa do máximo de energia possível.

 

Gengibre: Desde os primórdios povos orientais têm usado o gengibre como um fortificante. Com o aroma não é diferente. Perfeito para dar aquela animada durante a manhã”, o gengibre é mais do que indicado para quem vai ficar estudando até tarde ou está trabalhando há bastante tempo.

 

Eucalipto: Quer manter o equilíbrio constante e ainda manter a respiração funcional? Nada mais indicado do que perfume de eucalipto para isso. A essência revigora o organismo e ainda serve como poderoso descongestionante.

 

Agora, a dica final.

Foco nas experiências sensoriais sem esquecer da função que se pretende. Prestigie todos os sentidos. Seu ambiente estará vendendo saúde. Ou vai continuar ignorando tudo isso? A cura está em suas mãos.

 


Escrito pela integrante do SW TEAM:

 Tessy Linhares Tebchirani, graduada em Arquitetura e Urbanismo PUC-PR, especialista em projetos de ambientes de trabalho pela Mensch und Büro Akademie e Qualidade Corporativa Smart Workplaces.

Membro da 1ª turma nacional de Neurociência aplicada à arquitetura. Tem como objetivo aplicar conhecimentos da neurociência em projetos mais assertivos, personalizados, priorizando a função e o usuário.

Priscilla Bencke

Arquiteta, pós-graduada em Arquitetura de Interiores, se especializou em Projetos para Ambientes de Trabalho na escola alemã Mensch&Büro Akademie.

Única profissional no Brasil com a certificação “Quality Office Consultant”.

X